Pasta de Papel

Ela, é bonita, agradável à vista e ao toque, enérgica e... consegue deixar qualquer um com uma enorme sensação de leveza... no entanto, possui um 'senão' - sem 'pasta' não é capaz de cumprir  as  'tarefas' a que se propõe na sua inteira plenitude.

Ele, forte e resistente a algumas das mais árduas tarefas, tem a  ambígua qualidade de conseguir ser de uma delicadeza ímpar sempre que é necessário e desde que não o tratem de forma rude... mas, também possui um 'senão' - quando puxam muito por ele... só termina no fim.


Uma série bastante interessante com capacidade de despertar o mais variado tipo de emoções a quem a segue. O mesmo poderei dizer dos intervenientes acima referidos.

Por razões de muito pouca importância do meu quotidiano, constatei de que é urgente organizar a 'agenda' e ir às compras. Ao mesmo tempo que elaborava a minha 'lista mental' - coisas de gajas e polivalências femininas e, thank god já há alguns protótipos masculinos capazes de o fazer tão bem como nós (ainda bem que tudo muda e tudo se transforma!) - lembrei-me de que talvez fosse proveitoso partilhar uns disparates com os 'passageiros' deste meu avião.

- Ela, é bonita, agradável à vista e ao toque, enérgica e...

- Ele, forte e resistente a algumas das mais árduas tarefas...

 
Pois é mesmo isto que preciso adicionar à minha lista de compras!
Os disparates que pretendo partilhar são dois textos escritos há algum tempo atrás e que tudo têm a ver com pastas e papeis nos seus mais variados sentidos e interpretações.
 


SKETCH

“Combate à Crise”
Está a passar o jornal da noite na televisão do café da aldeia. Ouve-se a repórter:
“- E já nos encontramos aqui na fábrica onde passamos a mostrar as novidades de que lhes falávamos, bem como o investimento efectuado pela empresa em novas tecnologias para que consiga ganhar esta inovadora aposta em países estrangeiros. Assim, temos connosco o director responsável, Dr. Pimentel. A repórter dirige-se ao director:
- Muito boa tarde Dr. Pimentel, então explique-nos lá como é que surge esta inovação e em que é que isso tem contribuído para o desenvolvimento e aumento das vendas, inclusive ao nível da exportação, tal como já me foi referido?”
Dr. Pimentel (imponente e exageradamente vaidoso)
- Boa tarde! Pois, antes de mais deixe-me dizer-lhe que, me sinto muito orgulhoso por neste momento ser responsável por uma das poucas empresas em Portugal, que vê a sua facturação disparar em flecha dentro da actual crise económica que o nosso país atravessa. Pois bem, tal como anteriormente referido, isso deve-se ao facto dos nossos designers estarem perfeitamente actualizados das exigências do mercado estrangeiro, bem como terem o bom gosto artístico nos motivos e desenhos criados e que são impressos nos infinitos milhares de metros de papel higiénico que fabricamos!
Dois vizinhos estão a beber a bica ao balcão e comentam.
Ti Jacinto
- Hã???! Atão?! Nã acredito que ‘tão a falar de papel pa limpar o cu?! Como dezia o mê pai: “tanta merda pa sair um cagalhão”! Atão mas agora, é isto? Mete ‘dijais’ na sei o quê e desenhos ‘artiscos’ com bom gosto ?! É por isso é que tá sempre más caro cada vez ca gente vai ó ‘super-micado’! Ladrões dum cabrão! Fosse ê que mandasse, ê dava-lhes era o bom gosto e bom chêro e tudo paquelas ventas acima, isso é quéra bem fêto! Agora cá gozar ca gente pobre…
Manel Chinês
- Não seja assim homem que eles até têm razão! Com evolução é que isto dispara…
Ti Jacinto
- Ah pois despara!!! Cada vez quê  minervo, dá-me a volta à barriga e sai cá um desparo, caté sai em flecha comeles dizem! E qualquer um fica de caganêra cus nervos… agora imagina os milhares da gente toda do país a correr pa sanita pa limpar o cu ó papel dos desenhos… na vês nada poi não ó chinês? Tens os olhos em bico e muita pecaninos, né?! Isto é um “cápô” ou lá que raio vocês dizem: o governo enerva-nos, a gente borra-se todos e os outros é q’enchem os bolsos com papel ós monecos!
Manel Chinês
- “Complô” homem! Não é cápô!!! Mas deixe lá, não se enerve por causa disto… olhe a sua barriga…! Mas ouça, ouça a notícia! Já viu que eles não se preocupam só com o dinheiro?! Também olham pelo ambiente… o papel é todo biodegradável!
Ti Jacinto
- À merda mais isso!!!  Desagradávele é a gente andar aqui a fazer figura d’ursos… (chegando-se ao colega) atão diga-me cá: mas o qué isso do desagrádavele?
Manel Chinês
(puxa o Ti Jacinto para uma mesa
- Biodegradável quer dizer que é rapidamente absorvido pelo ambiente sem o prejudicar.
Ti Jacinto
- A mim? Na prejudica nada, homem! Desde ca nha Maria na ponha desse papel lá na casa-de-banho… na prejudica! Na sei se tá a ver, ó amigo Manel…?!
Manel Chinês
- A ver o quê homem?
Ti Jacinto
- Atão?! Com tantas novidades e modernices… vai-se a ver inda metem lá uns bonecos a mexer-se como na tivisão. E se algum se atreve a meter algum dedo onde na deve?! Olhe quê cá na gosto de sepisitoiros!!!
Manel Chinês
- Não pense nisso…!
Ti Jacinto
- Ah poi não! Da última vez que vinham na recêta do médeco, ingueli-os só pa nã ter de os meter… onde a nha Maria disse…! Reméido por reméido entra por donde m’apetecer. Andê agoniado dois dias mas depôs fiquê bom que foi uma beleza!!!
Ficam calados uns segundos e ouvem uma outra notícia.
“- Então o senhor reaproveita todo o lixo que encontra e faz novos objectos!”
Ti Jacinto
- Boa indeia! Um gajo daqueles é quê precisava lá na sarração – metia-o a quemer sarradura e a cagar barrotes! Nem precisava de limpar o cu e podia ser que m’acabasse ca crise… era ou nã era incológico ó Manel?!

E foi por causa desta notícia que este disparate me surgiu.
Nesse dia deixei a minha mãe a rir à gargalhada com o comentário que me saiu... e acreditem que não foi coisa boa!!!


Deixo também um agradecimento a quem me autorizou a roubar algumas expressões que obviamente levei ao exagero

"Que rica cama"

Numa outra vertente interpretativa de 'pastas' aqui fica outro 'nonsense':

Crónica e/ou Coluna

Os Senhores da Pasta


    Como devem imaginar e entender, a pasta é uma coisa muito importante seja ela de que tipo for. Pois é isso mesmo! Em qual é que pensou? Ah, em pasta! Pois está muito bem pensado meus caros Senhores e Senhoras. É essa mesmo! Talvez não tenha sido a que eu pensei em primeiro lugar mas isso também será apenas um ínfimo pormenor tendo em conta o “estado de vida” do nosso maravilhoso País ou, a “vida do nosso Estado” – organizem o pensamento como bem vos aprouver que tudo irá desaguar no mesmo “rio”. E atenção: quando digo “maravilhoso” não estou a ironizar porque considero Portugal uma pequena relíquia do Globo acariciada pelo Atlântico! Pena é, nem todos sabermos ou antes, nem todos querermos amá-lo e lutar por ele da melhor e mais proveitosa forma.
    Provavelmente, lá atrás pensaram de imediato em dinheiro e estava certo. Mas, se acaso pensaram nas várias Pastas Governamentais… também estaria certo. No entanto, na eventualidade de terem pensado na simples pasta de um Sr. Doutor - seja qual for a especialidade e grau de doutoramento – tenho a dizer que, está correctíssimo. E, para não me tornar maçadora, vou adiantar que, a título particular, pensei em todas elas ao mesmo tempo. Pois é! Já alguma vez pararam para pensar na importância de conteúdo dos milhões e milhões de pastas que circulam por este país? Claro que nesse número não poderemos incluir a população das regiões menos desenvolvidas (já para não mencionar as regiões que os vários governos fazem questão de manter na sombra e, literalmente na escuridão das grutas da Pré-História), nem a população sem voz activa na sociedade – crianças e idosos.
         Pois devo dizer e, na minha modesta opinião, é nessas pequenas maletas (mais ou menos vistosas) que se definem os destinos do país e dos seus “distraídos” habitantes: nós!
    Consequentemente, é nesses amovíveis e pequenos objectos que circulam documentos de extrema importância que nos distribuem e catalogam como habitantes de primeira elite, segunda, terceira, quarta e por aí abaixo, até chegarmos aos habitantes da pedra da calçada que têm a coragem e a resiliência de se aconchegarem em camas de trapo e papelão e a coragem de mandarem as “elites superiores” à merda, ficando assim isentos de impostos, juros, coimas e todos os “aperitivos” financeiros que nós – os espertos – temos de engolir se queremos continuar a andar de “cabeça erguida”. Muitos de nós olham-nos como “fracos e coitados”. Coitados, talvez sim (alguns, claro – porque em todas as ditas “elites sociais” há sempre os “bons” e os “ maus”) mas fracos, não concordo! “Fracos e coitados” somos nós que deixamos de viver a nossa curta e única vida, na correria diária em função de bens materiais e maravilhosos apelos de conforto social que, infelizmente, muitas vezes nos fazem adoecer de excesso de stress, esquecer os verdadeiros prazeres de apenas estar vivos e apegarmo-nos a coisas sem qualquer importância. A esta altura, imagino que deve ser triste, chegar a velhos (idosos para o caso de quererem amenizar a realidade), olhar para trás e, perceber que percorremos o caminho errado e que, a nossa vida não teve qualquer importância a não ser na memória dos que nos amaram – isto para os que pelo menos souberam fazer-se amar. Ah, quase me esquecia: tivemos alguma importância, sim! Os que saboreiam este “amargo de vida” no fim do caminho, serviram condigna e honestamente para enriquecer e elevar as “elites sociais superiores” a que anteriormente me referi.
    Portanto meus Senhorescom ou sem Pasta – ficar-vos-ia eternamente grata (se é que isso vos “aquenta ou arrefenta” – como diz o povo) se, alguns de vós parasse para pensar uns minutos, horas, dias ou meses. Talvez dessa forma todas as pequenas e grandes Pastas do País se movimentassem em prol de um futuro mais risonho e promissor para os nossos filhos, mais digno para os nossos pais… e para nós, claro – porque todos “enrugamos” de forma demasiado rápida para o nosso gosto.
    Como imaginam, muito mais haveria para dizer, alertar e desenvolver sobre o tema “Pasta” mas tornar-se-ia na maior das certezas quase tão maçador como o pior dos livros que se possa ter tentado ler sem interesse ou motivação.   
    Em suma, gostaria de vos recordar da importância de ver, dar e receber um simples sorriso em cada dia porque na verdade, o segredo da evolução e desenvolvimento de um País, está na simplicidade de existir uma população feliz, trabalhadora, empenhada e orgulhosa; não podendo esquecer a colaboração, honestidade e esforço conjunto de todos os habitantes onde também estão incluídos todos os Senhores de todas as Pastas.
    Parece que estou a falar de um mundo “cor-de-rosa” mas não! Estou apenas a falar de um País que deveria de evoluir não só tecnologicamente como também social e mentalmente. Termino com uma “prova dos nove” à moda antiga que ao invés de ser feita com números terá uns intemporais conjuntos de palavras:


“NESTA HORA”
Nesta hora limpa da verdade é preciso dizer a verdade toda
Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira e não meia verdade

Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida

O demagogo diz da verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe

A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados

Não basta gritar povo é preciso expor
Partir do olhar da mão e da razão
Partir da limpidez do elementar

Como quem parte do sol do mar do ar
Como quem parte da terra onde os homens estão
Para construir o canto do terrestre
- Sob o ausente olhar silente de atenção –

Para construir a festa do terrestre
Na nudez de alegria que nos veste
                                                              20 de Maio de 1974
                                                        Em “O Nome das Coisas” de
                                               Sophia de Mello Breyner Andresen


E digam lá que as nossas crises não vêm desde a época dos Descobrimentos?!

 Vale sempre a pena dar uns Xutos e Pontapés para que o globo continue redondo


E por Descobrimentos... hoje é o Dia de Portugal , de Camões e das Comunidades Portuguesas. Dia de festividades cheias de pompa e circunstância... e outras tantas diversidades de actos. Talvez por isso não fique mal interligar 'todos os tempos' uma vez que continuam tão actuais: o país continua em crise, as comunidades portuguesas ou que falam português também... só o grande Camões é que já não escreve 'pró boneco' como antigamente - escrevo eu por ele!

Aqui fica então o link entre o passado e o futuro:

E como eu gostaria que as escolas 'aprendessem a ensinar' os elementos do nosso futuro a sentir um interesse e um gosto naturais pela cultura ao invés de lhes incutirem aversão  aos Lusíadas e outras obras similares; que delas saíssem alguns senhores ministros empenhados em alargar horizontes para que consigamos retomar o percurso de desenvolvimento cultural que deixámos lá atrás... e, provavelmente dentro de alguma 'pasta' cheia de mofo.

Afinal, uma pasta de papel pode conter tudo o que nós quisermos.

 
  


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