O "Algemas" em discurso directo

Por circunstâncias várias da nossa vida privada, profissional ou social, de quando em vez todos nos sentimos um bocadinho presos... ou um bocadinho grande.
Embora a essência que me direcciona seja legitima e merecidamente livre, existem condicionantes sociais que não me permitem a liberdade física tal como a imagino e ambiciono.

Num dia com tanto de suado como proveitoso, pediram-me para colocar umas algemas "muito fofas" a falar em discurso directo.

[No momento em que mergulho na "baía das palavras", o banho é delicioso e leva-me a outra forma de existir. Quando volto à superfície e me sento em "terra firme"... tudo seca demasiado rápido e a alma perde valor. Só volta, quando torno a mergulhar.]

Deixo aqui o resultado de um desses mergulhos:

Antes     


 O Algemas tem uma função necessária à sociedade e que, a meu ver deveria de ser muito mais considerada a todos os níveis. Se por vezes, existem casos de abuso de poder, talvez seja motivado pelas graves consequências da ausência de limites humanos e pela abundância de pressões sociais.





           “Algemas”


    - Nunca pensei passar por isto, fogo. Imaginem-me esta merda -  enfeitarem-me com um pêlo preto, macio e delicado. Ó caroço. Fónix, isto é de gaja, pá! Lá porque o meu nome é “Algemas” eu sou muita macho, ouviram! Tsss… isto é uma humilhação do caneco. E o pior é que os outros fiquem a duvidar da minha masculinidade hã?! Dass…
    Vocês sabem por acaso qual é a sensação de amarrar e tirar os movimentos a um gajo que acabou de matar um polícia??? O sabor do sangue do animal a escorrer-lhe pelos pulsos apenas porque se quer livrar de mim mas não consegue e por isso lhe rasgo a pele? É delicioso! E agora, fazem-me isto: metem-me pêlo, vejam bem.   Estou enojado e atormentado até às entranhas. Já imaginaram os lindos nomes que me vão chamar lá na esquadra? Parece-me já estar a ouvi-los com bocas tipo: “bichona; rabicho; és linda macia e cheirosinha; deixa-me roçar-me no teu pêlo…” Oh cum caneco.
Mas, deixem ‘tar que não perdem pela demora: deixem que agora vou ser eu a dar-lhes a volta – amanhã falo com a minha amiga Leona e juro que ela me ajuda a amarrar o idiota que teve a ideia peludenta. A caminha de serviço lá da esquadra serve bem e, boazona e astuta como ela é, num piscar de olhos… ahahah, já estou a vê-lo  todo nu, comigo a acariciar-lhe os pulsos enquanto ele tenta chegar à roupa. E juro que vai buscá-las ao lixo dos restos da cozinha! Quem ri por último ri melhor e vai ser de certeza o polícia do ano. Dou-lhe direito a prémio de honra e tudo: nu, amarrado e subserviente!
Coitado, ainda não fiz nada e já ‘tou com pena do gajo. Pensando bem… e não serão quase todos assim?

                                         
                                                             09/10/2010



 Depois   
 

  • Moral da história:
  • Convém que haja poder de encaixe
  • Seguir em frente com as mudanças
  • Viver bem num ambiente hostil, ou não
  • Ainda que seja no meio de pêlo, natural ou sintético
  • O importante é estar lá... aqui ou, 
  • Onde nos der na real gana!

 E assim se inventa a liberdade.


                                                                                  

2 comentários:

  1. Gostei, a coisa é mesmo, saber estar e perceber o que nos prende, libertarmo-nos ou aprender a viver com as nossas prisões (algemas), para que deixem de nos prender, ou seja aproveitar as energias a nosso favor,"...para chegar à margem, mais vale nadar a favor da corrente em direcção à margem, do que contra, porque nos vamos cansar mais e talvez não consigamos lá chegar...".

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