Mensagem sem resposta


  “Deixa uma pequena marca por onde passas para que consigas ver o caminho de volta”

Estranhavam-lhe o nome de cada vez que o proferia. Era realmente estranho mas também singular. Só agora compreendo o porquê: com os olhos irradiando alegria e de sorriso franco e aberto, agitava tudo e todos à sua volta. À época era belo e delicado ter uma pele clara, mas a sua cor morena evidenciava ainda mais a sua beleza; a vivacidade e a inteligência completavam o quadro de uma mulher perfeita. Mudou tudo por amor e num dia tudo mudou: ficou bela sem existir e enérgica sem valor. Optou por ser feliz em troca de sofrimento e, tanto o sorriso aberto como a luz dos seus olhos voltaram. Muitos são os que falam dessa luz e outros, nunca a esquecerão! “Ermentina” já não existe. O mundo pode até sentir que nunca existiu ou que não fez qualquer diferença. Terá sido apenas mais uma partícula do seu núcleo ou da sua periferia, mas eu, “invento-a” todos os dias e digo-lhe: “Olá mãe… até amanhã… amo-te muito! Agora é estranho não obter resposta… pelo menos, não da mesma forma.
                                                                                                                                           07.11.2010

[não queria que houvesse 'partidas', nem despedidas. Queria que houvesse apenas 'mudanças' e que a essência não deixe de existir]
Quis tirar-te uma fotografia enquanto acalmavas 'aquela' dor,  sentada no sofá. Tinhas os olhos fechados e não quis incomodar-te. Mexeste-te e assustaste-me - tremi as mãos e quando vi o resultado, decidi guardar porque quase parecia ter fotografado não a tua imagem mas sim a tua essência.


Ontem saí de casa com a vontade e a força de quem ia rodar o mundo dez vezes. Lembrei-me de ti vezes sem conta sem sequer perceber porquê. Vi a minha imagem numa montra, achei-me 'quase' linda (coisa rara!) e lembrei-me de como gostavas que eu andasse bonita e da forma como o manifestavas por tão bem saberes da minha reduzida paciência para adornos femininos. Depois, vi um velhote muito pequenino e muito magrinho na frente da fila onde eu estava e lembrei-me de ti - uma senhora olhava-lhe para as bainhas das calças azuis pespontadas com linha clara e percebi o seu ar de reprovação (nem interessa ao quê!) - senti pena dele e nunca gosto da sensação de pena de alguém. Quando se dirigia à saída, embateu na porta de vidro com toda a força e tentou resolver a situação mas sem resultado. Ainda dei dois passos na sua direcção mas uma senhora adiantou-se e ajudou-o. Ele apenas sorriu. Senti-o tão indefeso quanto te sentia a ti nos dias em que o mundo já era demasiado grande para o teu cansaço.

Lembrei-me de imediato de uma das minhas 'desajeitadas habilidades' num belo dia em que me dirigi a uma grande empresa para formalizar um contrato e que, logo à chegada, ao terminar o último degrau tropecei e entrei de nariz quase a roçar o chão, totalmente 'desgovernada' e deixando atrás de mim uma enorme porta de vidro a abanar por todos os lados. E, provavelmente alguém que viu, a rir entre-dentes. Felizmente, o contrato correu bem e na volta, a minha saída também! Afinal, escada abaixo seria muito pior...  
Poucos segundos depois dei comigo a pensar que não era de todo impossível acontecer-me o mesmo se tiver a sorte ou... nem sei, de chegar à idade daquele senhor - desastrada como sou, muitas serão as figuras caricatas do meu futuro.

A essa hora ainda estava muito bem mas já só me apetecia rodar o mundo cinco vezes... 

Quando cheguei à tua casa e vi a janela de novo partida e a casa de novo assaltada... já não me apetecia rodar o mundo vez nenhuma. Apeteceu-me antes apanhar o verme que tem sido capaz de o fazer e que eu não consigo impedir. Queria saber quem anda a gozar com a tua memória e com o meu coração. E como faz doer... talvez não tenha importância nenhuma mas incomoda. E muito! Também queria muito voltar a ver-te por lá, a mexer em tudo sem fazer nada... mas extremamente feliz. Ou, apenas presente, enquanto eu limpava e lavava tudo... agora, começo sempre, mas sozinha, não consigo terminar. Desculpa!

Todos dizem ser um puro de um egoísmo ainda te querer cá... mas não quero saber! Podem até dizer ser uma estupidez estar para aqui a escrever isto mas também não quero saber!!! Preservar o quê? Proteger o quê? Para quê se quem eu não autorizo te 'invade'? É apenas mais um caminho muito difícil dadas as circunstâncias mas prometo que vou mudar isso!

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Já passaram alguns dias depois disto. Hoje, a manhã foi muito boa mas a tarde foi muito má. Estou naqueles dias de 'birra' de 3 anos em que só te queria a ti precisamente por saber que não podias estar comigo... e hoje não podes estar comigo, eu sei! Desculpo-te a ti mas não consigo desculpar a morte! Não quero! Nem consigo entender esta estranha cultura fúnebre de enterrar o que já não presta para não se ver, para não poluir nem estorvar. De que serve? De que serve quando a memória continua intacta e sem direito de opção multiplica suposições...? Respeitei e 'escolhi' (como se se pudesse usar o termo 'escolher') tudo conforme a vossa vontade mas não consigo viver bem com isso. Desculpem-me os que já não 'me' podem ler. E assumo que o meu maior trauma é mesmo a morte.

Mudei a vida toda apenas porque decidi seguir uma energia muito estranha a que por vezes dou o nome de 'coração da minha alma'. Pendurei-me em fios de sonhos que me ajudaram a deslizar até uma montanha de esperança. Descobri que afinal, a beleza da montanha 'arde' com a simplicidade de um sopro mais quente e que são demasiados os anos para a sua recuperação. 
Posso reclamar ou reivindicar o que quiser porque não obterei resposta.
Agora, já não me chega o mundo inteiro para recuperar o que perdi.



 

1 comentário:

  1. Tens toda a razão Niki :) mas é quando estou em silêncio que os sentimentos se transformam em palavras. Se não lhes der forma... acabam comigo. E, é porque ainda tenho esperança na resposta que tenho de continuar à espera. Uns dias parece que sim, que tenho resposta, outros nem tanto. bjs e obrigada por "me leres" :)

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