Estrela Cadente

Tinha aqui esta mensagem escrita e esquecida há mais de um ano. Nestes meses últimos já vi duas estrelas cadentes e um meteorito. Siiimmmm, vi um meteorito!!! Que coisa incrível! Dizem que é para pedir desejos quando vemos estrelas cadentes...e agora? Com o meteorito o que é que posso pedir??! Vou pensar! Também aceito sugestões... vai ter de ser algo tão fenomenal como aquilo que vi - talvez paz e dignidade seja um pedido importante em forma de fenómeno para tantos de nós... talvez seja sim.


 Foto Lua Cheia by Alda Silvestre, desfocada - a foto! :-)


Então... estava eu num grupo de amigos e de "cabeça no ar" - como sempre - e vi o meteorito a atravessar o céu com uma bola de fogo incandescente de um azul anilado e um feixe de luz que o empurrava na horizontal do céu escuro a toda a velocidade. 
Primeiro ficámos boquiabertos a olhar para o céu semi-iluminado pelas luzes da cidade.  Depois começamos a dizer disparates e, no meio de muitos chegámos à conclusão de que eram os Et's que me vinham buscar a casa para uma "rave". Será fácil concluir que não foram bafejados pela sorte uma vez que "numa rave de risota" no meio da rua já eu estava e por isso não me encontrava em casa à espera deles.

Por esse motivo decidi partilhar aqui esta "estórinha" sem importância nenhuma para a humanidade mas muito importante para mim. 

Por falar em humanidade, à data de hoje e entre tantas outras notícias acabei de ver algo com verdadeira importância para o planeta - ontem desligaram as luzes durante uma hora em vários pontos do globo e em cento e cinquenta freguesias portuguesas. Ora, como não sabia do sucedido e estava muito ocupada a existir, vou agora fazer a minha boa acçao para com o meu mundo e estar quietinha durante uma hora, de luzes apagadas, só a ver chover e a obrigar-me a pensar claro no escuro (acredito que esteja agora muito boa gente a pensar "ufffa, que alívio - ela vai estar quieta e calada durante uma hora...e a pensar, ainda por cima - que fenómeno!").

Foto Luzes Foz do Arelho - Portugal - by Alda Silvestre (Luzinhas treme-treme)


De qualquer maneira, queria apenas partilhar "a conversa que ouvi" do meu neurónio há um ano, nos segundos em que o pensamento ficou preso naquela estrela. Não percebi muito bem com quem era a conversação, mas isso agora também não é importante:

"Num destes dias de um passado recente, vi uma estrela desprender-se do céu em direcção à minha montanha. De vez em quando recebo estes presentes do universo e sou feliz apenas por isso. Confesso no entanto, ter sempre um misto de insatisfação à mistura por não poder ser feita de uma qualquer matéria que me permitisse dançar com as estrelas, escorregar pelo arco-íris e essencialmente voar por onde bem quisesse e me apetecesse... mas pronto, não se pode realmente ter tudo. Por vezes é mesmo um aborrecimento ser "feita de pessoa". Gostava de ser feita de uma matéria transmutável ou que desse para tele-transportar sem qualquer logística ou prévia preparação - seria apenas "pensamento/viagem automática" - e lá iria eu ver "aquelas luzes" onde me apetecesse...quer dizer, às vezes vejo luzinhas a brilhar...mas é quando bato com a cabeça ou quando parto dedos nas portas a vestir casacos... e situações similares!
Mas ainda tenho a esperança de ser nesta minha vida que os cientistas inventam umas asas de "vestir às costas" e voar daqui para ali e dali para outro país qualquer que me apeteça e quando eu bem quiser. Pronto, são vírus e manias que as pessoas às vezes apanham - eu apanhei estes!" 

 Serra do Montejunto - Portugal (foto by Alda Silvestre)


A Montanha Que Gostava de Pessoas

A Estrela Cadente desceu a correr a parede do céu escuro na direcção da sua montanha preferida, deixando atrás de si uma estrada de luz. Quando já estava mais próxima perguntou à montanha:
- Posso morar mais perto de ti?
- Podes sim Estrela... mas assim tão perto também não!
- Porquê? Não percebi...
- Porque me iluminas muito mais e eu não quero!
- E não gostas que te dê luz e forma durante a noite, sua montanha respondona e mal-agradecida?
- Gosto e não gosto - é bom ter-te mais perto mas não gosto que me vejas todos os altos e baixos, todas as mossas e imperfeições... prefiro que continues a ver-me perfeita como antes.
- Mas... mais longe ou mais perto vejo-te da mesma forma.
- Isso dizes tu agora que acabaste de chegar.
- Pelo menos eu acho que vou dizer sempre...! - retorquiu a Estrela.
- E eu acho que não! Com o passar do tempo, as coisas mudam todas... todos os dias ouço vozes ao longe dizerem: "ahhh, que linda aquela montanha... vamos lá?!"
- Pois! Vês...?!!!
- Pois vejo... o pior é que quando aqui chegam, viram-se para a minha vizinha do outro lado e dizem exactamente o mesmo! - disse a Montanha desapontada.
- Sério? - perguntou a Estrela muito admirada - Eu nunca vou fazer isso! Gosto de ti, sabes...?!
- Ainda não acredito muito bem...
- Acredita sim! Mas olha, as vozes de que falas são aqueles bonequinhos articulados a que tu chamas pessoas e que nunca sabem estar quietos, calmos nem satisfeitos?
- Sim, são...
- E que fazem muito barulho, esbracejam e barafustam por tudo e por nada?!
- Sim...! - confirmou a Montanha.
- Ahhh, não ligues! Não digas a ninguém mas esses bonequinhos são um bocadinho parvos eu acho. E prometo que nunca te vou fazer isso! - ripostou a Estrela.
- Isso dizes tu... - argumentou de novo a Montanha quase a desmoronar de tristeza - e porque é que dizes que as pessoas são parvas? Eu não acho... até gosto delas.
- Eu também gosto... mas acho na mesma que são parvas! E "muito achado" com muita força daquela que é capaz de mover montanhas como tu!
- Ahahahahah - riu a Montanha - agora tiveste piada! E não se diz "muito achado"...
- Mas eu digo! Afinal com tanta luz à minha volta passo a vida a achar coisas e ver o que mais ninguém vê. E digo-te mais - sabes porque é que os bonequinhos barulhentos são assim?
- Porque são donos de si, vão para onde querem porque têm pernas, são muito fortes e mandam nas coisas... - arriscou a Montanha.
- Mandam?! Nãaaaa! Nada disso!
- Então não sei...
- São todos piores que as crianças que eles mesmos repreendem a toda a hora - pensam que têm uma vida muito grande à frente, que fazem só o que querem e que têm todo o tempo do mundo para viajar e ver todas as montanhas da Terra. Depois, quando percebem que as suas vidas são tão pequeninas como eles é que escolhem uma montanha como tu para admirar e ficar - demoram tempo demais para ver que a paisagem imperfeita da sua montanha é tão bonita como a da montanha do lado.
- Hummm...mesmo assim ainda acho que eles são fortes e destemidos - defendeu a Montanha.
- Alguns sim, mas são raros - ripostou a Estrela - mas mesmo esses... falam comigo como as crianças fazem e pedem-me desejos de cada vez que me vêem mais brilhante... ai se tu soubesses alguns dos disparates que me dizem e pedem para lhes dar... - disse a Estrela a sorrir.
- Pois, imagino!
- Não imaginas, não! Mas acredita que também tenho pena de alguns - e ainda acreditam que sou eu que lhes concretizo os desejos... taditos! Por vezes penso que deve ser por deixarem de saber sonhar que muitos deles ficam assim curvados, tristes, enrugados e velhinhos. Só muito mais tarde percebem que afinal o segredo da magia dos desejos que me pediram esteve sempre ali, na força e persistência da batida dos seus corações em todos os dias e no brilho de cada ideia inventada.
- Então achas que é melhor ser Montanha?
- Muito melhor, não duvides! Desde que sejas Tu e que Eu possa estar perto de ti!



03/2016
Alda Silvestre




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