Photo by Margarida Dias
Quantas fúrias valem os seus
direitos? Quantos direitos valem os seus actos? Direitos? Sim, direitos!
Humanos ou Mitológicos, há que tentar manter e preservar num qualquer espaço
real ou ficcionado, os maiores valores inerentes à honra da condição e cultura
sociais do meio onde “o outro” está inserido e em que acredita. É importante
ponderar as causas, motivos, consequências e julgar bem! Julgar? Julgar nunca
será certo ou terá benefício inteiramente justo.
Em As Fúrias ou de Como o Pai Venceu
a Mãe, deparamo-nos com a criação metafórica de um Tribunal instituido
em Atenas, onde se debate ao limite a luta entre o direito maternal e paternal.
Mediante a existência de dois crimes – o assassínio do Pai de Orestes e o matricídio – são postas em
causa todas as razões que naturalmente levariam as deusas da noite - Eríneas ou Fúrias - a condenar o matricida.
Numa sociedade onde a Mulher era
totalmente desvalorizada e vista como sendo apenas uma “incubadora de novos
seres”, Apolo alega a favor de Orestes de forma a conseguir a sua
absolvição. Neste Tribunal Atena cria
lei ao invés de justiça em prol do benefício da ordem pública, desvalorizando a
força da razão que todos possuem no íntimo das suas vivências.
No início da Peça temos a
Introdução feita pela encenadora Fernanda Lapa. O público faz parte deste
Tribunal, sendo também convidado a decidir o destino de Orestes, com base em todos os factos e emoções expostas, colocando
o seu voto nas urnas e assistindo de seguida ao consequente desfecho do drama.
No final, todos são convidados a beber uma taça de vinho e brindar em honra de
Diónisos, o Deus do Teatro.
E sim, brindemos ao Deus do
Teatro!
Brindemos também à Escola de Mulheres – Oficina de Teatro,
onde há mais de duas décadas existe um núcleo no feminino responsável pelo
desenvolvimento da Arte e onde há uma especial “incubadora de novos seres”,
pessoal e artísticamente valorizados.
Photo by Margarida Dias
Ficha Técnica e Artística
Texto: a partir de “As Euménides” de Ésquilo
Dramaturgia, Encenação e Figurinos: Fernanda Lapa
Interpretação: Sara Túbio Costa (Pitonisa, Clitemnestra e Atena) /
Marta Lapa, Maria Ana Filipe e Joana Castro (Fúrias) / Francisco Côrte-Real
(Apolo) / Rodrigo Tomás (Orestes)
Assistência de Encenação e Apoio ao Movimento: Nicolau Antunes
Adereços e Máscaras: Carlos Matos
Desenho de Luz: Paulo Santos
Fotografia: Margarida Dias
Apoio a Adereços: Marinel Matos
Grafismo: Manuela Jorge
Direcção de Produção: Ruy Malheiro
61ª Produção Escola de Mulheres
Classificação Etária M/16
As Fúrias Ou De Como O Pai Venceu
A Mãe, estará em cena até dia 29 de Janeiro, de 5ª a Domingo às 21.30h
no Espaço Escola de Mulheres (Clube
Estefânia).
Bilhetes à venda na BOL e na Bilheteira Local nos dias do
Espectáculo.
Mais informações em www.escolademulheres.com
Nota pessoal:
. Tive a oportunidade de experienciar um
dos métodos de Apoio ao Movimento, leccionado pelo Nicolau Antunes a uma turma
onde também participaram os actores e alguns elementos da produção de As Fúrias. Devo salientar que a
experiência foi extremamente enriquecedora a nível pessoal para o meu
auto-conhecimento físico e emocional. No entanto, para além disso, foi muito
interessante uma “outsider” perceber um
pouco da dinâmica de trabalho exigida e percorrida por todos, até à hora em que
tive o privilégio de me sentar confortávelmente a ver o trabalho final, sendo
também eu, um dos elementos do público daquele “Tribunal”.
. Foi surpreendente para mim mesma como
é que utilizando a razão e o coração como muletas e, baseada numa frase dita
com toda a convicção há muito tempo pela criança mais importante da minha vida,
onde me descreveu de forma incisiva um sentimento humanamente correcto e que eu
podia relacionar naquele instante com a situação dramática daqueles deuses, poder constatar que apesar de eu
estar a raciocinar no sentido da justiça também me enganei no julgamento. Confesso
que me assustei um pouco com o facto de ter ficado a certeza de que simplesmente
julgar, também pode condenar inocentes.
. A última lição que trouxe da
experiência é que ser actor, encenador, dramaturgo, cantor, dançarino, pintor,
trapezista, malabarista, escritor… ou outra qualquer profissão ligada às artes…
ou outras, não são apenas para quem quer, mas sim para quem tem a arte de se
esforçar para lá dos seus limites até conseguir!
Alda Silvestre
11.01.2017
Alda Silvestre
11.01.2017
Gostei muito de ler,entramos nas "Fúrias" da Grécia, apercebemo-nos melhor dos "Nãos" direitos das mulheres pela tua escrita!
ResponderEliminarNa nota final gostei do que falas sobre todos os artistas terem de se esforçar muito apesar da arte ser inerente à sua essência!
Obrigada! :)Sem dúvida que para se tornar a arte visível tem de haver muito esforço e dedicação.
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