Amo-te Mãe / Love You Mother


Dois anos passaram e eu já fiz e inventei de tudo para Te chegar, para Te sentir...
Não sei se te disse... mas deves saber... - comprei-te este livro da Helen Exley três dias depois de te tocar pela última vez - estava nos correios e peguei-lhe, folheei-o e, a cada folha que passava sentia um arrepio por ter tanta coisa em comum com o que tínhamos partilhado durante tantos anos... até o relógio era idêntico ao teu... trouxe-o comigo com uma felicidade imensa em forma de presente para ti mas com a consciência de que já só o poderia oferecer a mim mesma...
E ofereci, na altura, tirando fotos a tudo o que sobrava de ti na tentativa inconsciente de te eternizar.


Há dias e horas em que flutuo com a sensação de que me empurras, orientas e acompanhas... mas depois, vêm os outros como hoje, em que nada me basta. Faça eu o que fizer, escreva o que quer que seja onde quer que me apeteça... não há nada que o mundo invente ou me dê e que me baste.

Hoje, uma parte do meu coração está feliz porque recebeu o delicioso abraço do meu filho :-) :-) :-)

Uma outra parte de mim está triste e até zangada comigo mesma porque deveria de ter sido suficiente... mas não foi - continuas a fazer-me falta! Amo-te Mãe!

Eu sei que já estás fartinha de me ralhar porque não devo sentir assim... eu sei que me dava jeito não ter memória e seguir em frente sem dor alguma... mas, tal como me chamavas, sou "espírito de contradição"...

Sabes bem que há dias em que sou muito feliz dentro de mim mas depois, vêm aqueles dias mauzalhões, como hoje, que só me apetece correr até te encontrar... sentada, à minha espera com um sorriso de quem ama de verdade, ajoelhar-me e deitar a cabeça no teu colo agarrada às tuas mãos deliciosas, remexer-te e desengonçar-te no meio de risadas à toa por ter dito um disparate qualquer.

Nos outros anos, neste dia, levantei cedo, fui buscar dois ramos de flores e, para acalmar o coração, um deixei-o "junto de ti" com um beijo... e o outro, ofereci-o à minha sogra acompanhado de um abraço apertado - apesar de tudo... somos amigas e ela sabe dar-me abraços muito bons.
Hoje não me apeteceu... não me apeteceu nada! Hoje, estou naqueles dias de Aldinha birrenta, que abanava  as rabichas, atirava os sapatos fora e que, sem o saber dizer, sabia apenas sentir...: "eu só quero a minha mãe!"

Agora, também sinto falta de tudo o que me deste, de tudo o que ensinaste e, confesso que tenho pena e até vergonha de não ter a tua força mas na realidade... do que sinto mesmo falta... é de ti e do teu mar de amor sem fim.


Aqui há uns dias atrás vieste dar-me um abraço demorado e delicioso. Eu sei que era sonho mas foi igualzinho... em sentimento, cor e sabor... pedi-te para não ires embora mas tu apenas sorriste e fizeste-me entender que é assim que tem de ser.
Esse dia foi muito bom e ri muito com alguns dos meus amigos. Às vezes quase parece que és tu que me vais colocando no caminho as melhores e mais importantes pessoas desta minha "vida nova"... dizem-me coisas que tu costumavas dizer e fazem-me pensar. "Acordam-me quando adormeço e sossegam-me quando estou demasiado agitada". Sabes bem, que por mau feitio ou teimosia acabo sempre por fazer apenas aquilo que sinto... e que, embora nem sempre seja benéfico para mim, continuo a trazer tudo e todos nas prateleiras do meu coração - muito desarrumadas, é certo, mas guardo tudo lá.


Não sei se imaginas como te admiro...
Eu sou realmente uma filha vaidosa e orgulhosa de ti.
Tenho feito de tudo para ser feliz, para me distrair e para não perder o que tenho de melhor mas, hoje, faltas-me tu.
Hoje, vou fazer de conta...
Porque tenho saudades de puxar a roupa da cama e te ajudar a deitar, de te aconchegar, de te puxar o nariz, dar-te um beijo de boa noite, apagar a luz do quarto e dizer:
"- Até amanhã mãe, dorme bem! Gosto muito de ti!"
Vou fazer de conta...
Porque tenho saudades de ouvir a resposta com o som da tua voz.

Mas não te preocupes porque agora, que tu não estás... todos os dias tenho algum habitante do meu coração que me diz o que preciso de ouvir:
"- Até amanhã;
- Fica bem;
- Gosti muitiii;
- Beijos, beijokas e beijinhos;
- Gosti;
- Dorme bem;
- Love u;
- Todos os dias penso em ti tia;
- Amo-te muito;
- Adoro-te;
- Vê se descansas...!; 
- E vai dormir que o teu mal é sono... ;-)

Fazia-te rir quando te dizia que não me vias chorar porque eu aproveitava todas as lágrimas para poupar mais água na hora do duche e assim poder ser mais amiga do ambiente e do planeta...
Agora, são todos eles que protegem o planeta e que pelo meio de abraços, beijos e "lol's" me dão a mão, não me deixam chorar tudo o que me apetece e, dessa forma, não possa contribuir para alguma tromba de água que aproveite a conexão entre os meus olhos e o aquecimento global! :-)

E agora vou dormir que o meu mal é mesmo sono...
Vê lá se te lembras disto?!


"- I love Milka... e a ti também, mãe!"
"- Ohhhh... e eu vou guardar o teu coração... assim, junto do meu, sempre!"
E encostaste a caixa de chocolates ao peito...

A caixa ainda está guardada aqui ao lado... mas o meu coração, em muitos dias, já não sabe onde mora.

Beijos querida,
Mesmo sem poder desejar-te boa noite...
Amo-te muito




* Quando olho o céu à noite e vejo centenas de estrelas imagino que estás feliz com dezenas de amigos em volta... quando só vejo meia lua e uma estrela imagino que "lá", dorme uma bebé que tu estás a proteger *




06.05.2012
Alda Silvestre


Ps. Promise that the next post will be all in English! Thanks always to all of you around the world! I'm sorry for being a little sad today... take care! xxx