Às vezes não me apetece! E agora, não me apetece - fazer, pensar, correr, programar... enfim, viver... agora, não me apetece! Qual é o mal de não querer viver a repetição por uns longos minutos ou até algumas horas? Não me apetece, pronto!
Estou aqui, quieta! Apenas movimento ao de leve a mão para construir mais um desenho de palavras... mas estou quieta. Agora mesmo, não estou a viver nada. Estou apenas a saborear a vida, o vento e, a deliciar os meus olhos com a paisagem. Pode não ter nada de extraordinário... mas eu vejo.
Os outros que agora não são eu, correm velozes ali mais em baixo e numa velocidade sem luz bastante mais adiante. Correm por todos os motivos válidos e também por aqueles sem qualquer importância. Deslizam sobre rodas pretas e quase todos pintados com a mesma predominância de cores: brancos, pretos, cinzentos... olha, passou agora um que seguia vermelho.
Cruzam-se em filas, tão próximos e tão distantes... quase podiam fazer como as formigas - colocar os braços de fora e cumprimentarem-se mas, na verdade, o tempo que se iria perder com essa atitude. O percurso demoraria mais do dobro e quando chegassem ao destino estariam todos atrasados para viver... por isso correm... e eu aqui, quieta, só porque não me apetece. E que bom é fazermos só aquilo que realmente nos apetece...! Nem que seja apenas nada.
Não! Agora não estou a viver. Pelo menos, não como aqueles que vejo atravessar a paisagem. Essa, está como eu - quieta. Só tem uma brisa que a bamboleia. Se eu ali estivesse no meio diria que está muito vento mas a paisagem não diz isso! Mesmo na minha frente está um grande grupo de árvores que parecem uma família... ou então são muito amigas e são na mesma uma família. Umas grandes, outras mais pequenas mas são todas lindas e orgulhosas por estarem ali... uma delas está separada das outras, é mais pequena e parece mais caída...talvez seja mais velha e já se sinta demasiado cansada com o peso de todos os dias. Ou então, é bastante mais nova e ainda está a aprender a crescer - tarefa igualmente árdua...! Também pode estar doente ou apenas triste... mas não me parece. Provavelmente quer estar quieta para conseguir saborear melhor o vento leve misturado com o resto do sol. Pois... deve ser isso porque ela não se mexe. Deve querer estar sossegada para apreciar o castelo ao longe e os moinhos de vento no limite do horizonte ou, então... interroga-se incrédula de como é possível que os "bichinhos reluzentes" que atravessam a paisagem à velocidade sem luz, já não possam parar de viver a correr para poderem sentir a delícia de estar quieto com tudo.
Eu também cheguei aqui a correr. Estacionei num sítio sem qualquer importância emocional mas de uso necessário. Fui lá dentro a correr mas quando voltei, ouvi as árvores, os montes e o horizonte dizerem: "estamos todos aqui... quietos, à tua espera! Será que podes trocar todo o teu nada pelo nosso tudo?
Devem ter ficado felizes por eu ter decidido ficar tão quieta a viver o meu mundo junto com o deles porque, agora, o sol veio amarelar-me ainda mais os caracóis com uma luz especialmente deliciosa e, ao mesmo tempo que se esconde no meio das minhas novas amigas árvores, sussurra-me no meio do vento:
- "Que bom teres ficado aí quieta a brincar connosco. Que bom teres trocado tanto nada por isto tudo!"16.04.2012
Alda Silvestre
Outside is raining, and I have the sensation that your composition is the perfect reading for this weather.
ResponderEliminarReading an English translation, I've had the feeling that I was reading a poem.
I am also admiring the way you combined the photos with the text, and the fact that there is a single spot you've used for all the photos! At first I thought that there are three different ones.
Congratulations, Alda!
Thanks Bobby :)and thanks for reading me! I wish I could have your camera and take amazing pics as yours ;) maybe someday... and I still believe you can wait for me :D xxx
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